sábado, 17 de setembro de 2011

Bom dia!



Te ver acordar é como um fôlego, uma respiração profunda. É a vida invadindo os meus pulmões. Sentir o seu toque é a felicidade em forma de arrepios que me desbravam a pele.  O seu amanhecer é feito de marés altas, ondas incrédulas que quebram às margens dos seus cílios. Um alvorecer de dedos que deslizam pelo seu corpo conhecendo cada milímetro seu, ávidos por percorrer as suas fronteiras, escorrer pelos limites dos seus lábios, descobrir as praias escondidas por trás dos mares dos seus cabelos.

É tudo um abrir de olhos espertos e eu adoro os seus detalhes. São sobrancelhas claras que se arqueiam, a pele macia na encosta dos seus pelos, suas texturas e a voz aveludada, sua respiração, seus impulsos, seus espasmos. São as folhas secas do seu outono emoldurando os seus gestos que fazem florir a primavera das suas palavras.  E assim se desenha a paisagem dos nossos dias. Um mar, uma onda, os pés na areia do nosso caminho e as nossas mãos dadas pra vida.

domingo, 11 de setembro de 2011

Mais uma vez.



Às vezes eu me sinto medíocre e isso geralmente acontece nos momentos em que eu gostaria, deveria ou de certa forma, quando eu mais teria ferramentas pra me sentir excelente. Mas eu quero fazer tanta coisa ao mesmo tempo e eu preciso aprender mais, ser melhor. Eu tenho tantos planos e vontades e um caminho tão longo pra percorrer.

Em alguns momentos eu me sinto tão cansada, desorganizada e indisciplinada e que preciso dar um jeito nisso, mas não importa o quanto eu prometa que no outro dia vai ser diferente, continua difícil colocar tudo em ordem.

Eu me sinto bem com o meu emprego, afinal sou barista por que escolhi ser, adoro as pessoas com quem trabalho, os clientes, o lugar e o produto com que trabalho. Estou feliz com os meus amigos, com a minha família, com o meu amor e até onde é possível pra uma mulher, estou feliz até com o meu corpo.

Tenho um monte de coisinhas inacabadas, tenho médicos pra ir, livros pra ler, línguas pra aprender, alimentação pra mudar e embora eu tenha conseguido boas coisas como arar de beber e de fumar, ainda me sinto negligente com o meu corpo. Sinto falta de aprendizado, de literatura, de oração, de exercício e de tempo.

Mais uma vez eu estou a um passo de me fazer as mesmas promessas de começar tudo de novo na segunda-feira e assim será.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Criado mudo.

    As suas pistas estão por todo lado, no seu tênis no canto da porta, numa camisa amarrotada no armário, na toalha estendida no banheiro e esse tempo parece não acabar nunca. É a angústia dessa noite fria, um travesseiro desocupado dos seus olhos fechados, é a solidão deitada do seu lado da cama olhando os seus sonhos que ficaram dobrados em cima do criado mudo.


domingo, 4 de setembro de 2011

Novas páginas.



     A vida muda e não importa quantos dias passem ou quantas vezes a gente ache que está tudo dando errado, em algum momento olhamos ao redor e percebemos que cada tropeço, cada pedra no caminho, as lágrimas que derramamos gota por gota e também as pessoas que passaram por nós, não importa o quão passageiras elas foram, cada detalhe do nosso passado aos poucos foi transformado em ponte pra nos levar até aqui.

     Hoje, quando olho ao meu redor, não sobra lugar pra arrependimentos e nem culpa, nenhum mísero segundo dedicado a melancolia ou frustração. O passado está onde deve estar, tenho boas lembranças de muitos momentos, saudades de alguns amigos que passaram pela minha vida, orgulho dos poucos e bons que permaneceram do meu lado e que me deram oportunidade de estar ainda e sempre do lado deles e esses sabem muito bem quem são.

     Na vida tive alguns fracassos, algumas conquistas, demorei muito pra saber o que queria da vida. A mudança não foi repentina, mas foi desejada e aos poucos fui percebendo dentro de mim os sentimentos mudarem. Aquelas decisões que eu protelava muito pra tomar, geralmente por medo, de repente pareciam tão obvias e fáceis que era inevitável não resolver de uma vez por todas e pouco a pouco fui limpando a minha vida.

     E me perdoem a sinceridade, mas nesse ponto, apesar de algumas desavenças e de ter que admitir muita coisa que talvez eu não estivesse tão preparada assim, até que foi, no fim das contas uma tarefa bem simples. O que acontece é que a medida que se tira da vida detalhes que pesava muito, sentimentos que nos machucam e mágoas que nos mutilam, ficamos mais leves e claros.

     Por ter me desfeitos dos escombros que apertavam o meu peito, sem que me desse conta abri espaço pra um novo visitante. O que eu não sabia é que em pouco tempo eu o estaria convidando pra morar em dentro desse meu coração que ainda está em construção.

     E é ele quem me ajuda nessa reforma contínua, na bagunça diária dos meus pensamentos bobos. É ele que me revela coisas de mim mesma que estavam escondidas debaixo dos tijolos da monotonia. E quem diria que justamente ele me tomaria pela mão pra dançar blues pela sala numa sexta a noite? O que importa é que por mais inesperado que seja, a vida nos trás o que precisamos no momento certo. E é essa mudança que faz a gente finalmente enxergar avida que antes passava batida diante dos nossos olhos que estão tão acostumados a ignorar os milagres do dia-a-dia.

     A única conclusão a que posso chegar é que não me importa tudo o que passei ou o quanto eu tive que esperar, no fim as contas o meu milagre é você.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Amigo



É que quando eu te disse que estava com saudades e você me respondeu dizendo que tinha outra em meu lugar, tudo doeu demais. Nessa hora eu só pude decidir que tinha que tirar você da minha vida, mesmo sabendo que doeria mais ainda. Aí eu passei um tempo chorando e pensando em tudo o que já tinha acontecido e em tudo o que eu queria que acontecesse. Lembrei um milhão e planos e de todas as formas como eu te enxergava. Até aquele momento você era tão perfeitamente imperfeito e por isso era assim mesmo tudo o que eu queria.

                Deixei de te ligar, de te procurar e me recusei a apagar o seu numero da minha agenda mesmo sabendo que meu coração se encolhia todo quando passava por ele de repente, mas é que antes de tudo você era meu amigo. E esse é um detalhe que fez tudo doer muito mais do que deveria. É que eu juro que não sabia que enquanto eu te beijava, eu estaria assinando um contrato que dizia que se tudo desse errado e que se eu me apaixonasse tão forte por você e a partir daí qualquer coisa que não era pra acontecer resolvesse surgir do nada, eu teria que abrir mão desse meu amigo que eu gosto tanto.

O tempo passa, sabe? E eu não acredito que ele cure tudo. Eu não acredito porque não acho que dor ou medo, paixão ou amor e falta sejam doenças. Mas às vezes esse tal de tempo consegue amenizar algumas coisas que a gente sente, ele tapa os nossos olhos e faz a gente olhar pra esquerda naquele momento em que você atravessa do outro lado da rua. Aí chega uma hora que por que eu não te vejo ou não te ouço mais, ou então porque de propósito deixei de ouvir aquelas músicas que você tocava e que eu ainda acho que você as canta muito melhor do que o Bon Jovi, o meu coração se engana e finge que não sente mais saudades. Na realidade ele sente, mas já não é a mesma coisa.

Hoje eu já não faço os mesmos planos e se é que te importa e não falo isso por desaforo, mas é só por mero desabafo que eu te vejo de outra forma. É que hoje eu percebo coisas que eu não sentia na época. Agora eu percebo que não me sentia parte da sua vida, ou melhor, eu fazia parte de um pedaço só seu e por ser só seu você não mostrava pra mais ninguém. Nessas horas eu me sentia tão excluída de todas as outras coisas que faziam você. Eu nunca estive misturada as outras partes da sua vida como os seus amigos, ou a sua família e os seus planos eram tão distintos dos meus. Suas ambições e alvos não se encontravam com a minha sede de trabalhar por amor pra assim conseguir ser feliz, nos meus objetivos, o que vem depois é consequência, mas você é tão milimetricamente calçado em metas tão lineares que embora eu pense que um quebra-cabeça não se completa com duas peças iguais, vejo que realmente as nossas são demasiadamente diferentes.

Não estou aqui pra apontar defeitos de ninguém, até porque, nada do que mencionei considero que sejam falhas, muito pelo contrário, admiro essas qualidades, mas hoje acho que não seria mesmo a peça que cabe na minha vida. É que eu sou assim tão estabanada e canto mal e acho a maior graça disso. E acho que a vida é feita de coisas gostosas, mas tem horas que são feitas para um certo sofrimento. Sou a favor do usufruir, do corpo, da vida, dos amigos e que seriedade é pra pouca coisa mesmo, mas esse é só o meu jeito. Fora o fato de que esse é somente um espaço que tento mostrar de mim mesma e pra mim mesma esse tipo de coisa que falo rápido e meio sem pensar pra não correr o risco de sentir muita vergonha depois. É quase que um quadro pintado de uma realidade que acaba de nascer entre os meus dedos e escorre por essas teclas esperando para serem observadas, lidas, gritadas, digeridas, desgastadas e quem sabe, entendidas.

De resto, do meu amigo, sim, eu sinto falta.

domingo, 17 de julho de 2011

Constatação.

      Você se apaixona, mas ele resolve ir embora. O tempo passa e quando você supera a falta dele, ele decide voltar pra sua vida. Então você passa por um momento sem saber oque fazer com isso, mas acaba "deixando acontecer" e fica esperando o coração bater de novo acelerado quando ele liga e fica bem espantada porque você ja nem se importa tanto, mas finge que sim. Tudo isso só acontece quando a gente tenta fazer um sentimento acontecer mesmo sabendo que no fim das contas, paixão igual aquela vai ser dificil de acontecer.
      Mesmo assim, sou a favor das novas chances, mesmo se as pessoas envolvidas forem antigas.

domingo, 3 de julho de 2011

Casa nova.


Nesses últimos dias eu tenho pensado em muita coisa e ao mesmo tempo tenho tentado não pensar em muitas outras. Mantenho a minha mania de dramatizar e filosofar sobre coisas do cotidiano e tentar traçar um paralelo entre essas situações e a visão emocional que eu tenho de tudo.

Desde o mês passado que estamos (minha mãe e eu) tentando nos organizar pra mudar de casa, mas mesmo com pressa e correndo contra o tempo pra arrumarmos um novo endereço, as arrumações dentro de casa e a seleção do que iríamos ou não levar aconteceu de forma paulatina e até um pouco fracionada por conta da nossa falta de tempo.

Na semana passada, minha mãe finalmente conseguiu encontrar uma casa que, embora não seja a casa dos sonhos, é aquela que coube nas nossas exigências e no nosso bolso. Depois de um corre-corre atrás de fiadores, documentações e uma série de outras providências, pudemos dar inicio oficial a todo o processo de encaixotamento de parte das nossas coisas e venda de outras e doação de mais algumas. Foi durante essas atividades que me dei conta de tudo o que estava acontecendo dentro de mim. Em nenhum outro momento me lembro de ter sentido que a minha vida emocional estava tão sincronizada com o meu ambiente.

Tenho passado por muitas coisas e alguns acontecimentos recentes que foram bem desagradáveis e me afetaram de forma significativa e profunda me fizeram mudar completamente a rota em que me concentrava. Ainda que, por um zilhão de motivos, entre eles o de mera autoproteção, eu tenha me sentido forçada a tomar essa decisão de forma rápida e objetiva, não foi impensado e muito menos indolor.

Tenho que admitir que depois da decisão tomada e mantida, pensei muito em tudo o que isso acarreta e o impacto que tem manifestado na minha vida de modo geral. Traçando um paralelo à minha mudança de casa:

A primeira medida que tomei foi de tirar tudo das “gavetas”. Chorei todas as lágrimas do mundo. Me dei ao direito de sofrer, de sentir essa dor que me cortava por dentro. Deixei meus olhos incharem, resmunguei abraçada com o meu travesseiro, borrei a maquiagem, me encolhi e solucei.

Depois da bagunça feita era hora de “recolher o lixo”. Então levantei, me olhei no espelho, sequei as lágrimas e lavei o rosto. Tomei um banho demorado, me maquiei e fui trabalhar levando como companheiro uma cartela de lexotan (só pra emergência), mas não usei nenhum e fiquei orgulhosa depois.

Comecei a terceira fase separando quais sentimentos, duvidas e lições eu queria guardar, o que disso tudo era lixo. Me fiz uma pergunta bacana: O que não serve mais em mim, mas que eu posso passar a diante? Fiz, nessa hora, a minha lista de doações. E depois descobri um monte de memorias e sentimentos que tinham sido lindos e felizes, mas que ficaram no passado e que não me cabiam mais. Tinham alguns sentimentos apertados, umas lembranças tão usadas que já estavam bem desbotadas. Também achei umas memorias meio soltas, umas recordações esfiapadas que há muito não vestia. Percebi que era hora de me desfazer delas, notei que manter tanta coisa assim ocupa um espaço muito precioso nas gavetas do meu dia-a-dia.

Andei encaixotando muitas outras coisas. Ainda tenho bastante coisa guardada, mas dessa vez, só o que me é útil. E já estou arrumando a minha “casa nova”. Nela tem muito espaço pra tudo o que há de novo. E sabe o que tem escrito no capacho da entrada? “Seja bem vindo!”